Soluções Baseadas na Natureza e os Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável

Você sabe de onde vem e para onde vai a água da chuva em nossas cidades? Por quais caminhos a água flui e percola? Bem, para responder essas perguntas, primeiramente é preciso entender o ciclo hidrológico do nosso Planeta.

A água é um dos recursos naturais mais importantes para os seres vivos e fundamental para a sobrevivência de todos no Planeta. Além disso, é essencial para a geração de energia, processos industriais, produção de alimentos, transporte de cargas e pessoas e no saneamento básico. Logo, conservá-la é essencial para garantir o seu uso!

Para onde vai a água da chuva?

O ciclo da água consiste no movimento contínuo deste recurso nos oceanos, continentes e na atmosfera. Esse movimento é alimentado pela força da gravidade e pela energia solar, que provocam a evaporação das águas dos oceanos e dos continentes.

Na atmosfera, forma as nuvens que, quando carregadas, provocam precipitações, na forma de chuva, granizo, orvalho e neve.

Nos continentes, a água da chuva pode ser absorvida pela vegetação, pode se infiltrar no subsolo (águas subterrâneas), pode ser devolvida à atmosfera (processo conhecido como evapotranspiração), pode escorrer para as bacias hidrográficas (água de superfície), bem como pode congelar, formando as camadas de gelo nos cumes de montanhas e geleiras. E assim, a água vai encontrando o seu caminho lentamente pelos riachos e rios.

Apesar das denominações de água superficial, subterrânea e atmosférica, é importante entender que, na realidade, a água é uma só e está sempre em constante mudança de estado!

E nas cidades?

Você acha que a água da chuva percorre os mesmos caminhos nas cidades? Na verdade, observa-se que a expansão urbana muda o ciclo natural da água e para onde a chuva vai. Isso ocorre devido ao aumento da superfície de escoamento e ao carreamento da poluição, que pode levar a alagamentos e enchentes.

Assim, a urbanização desordenada, associada à falta de manejo e ao uso inadequado do solo, provoca a redução da capacidade de armazenamento natural dos deflúvios, modificando os padrões de drenagem.

Em suma, as pressões demográficas, a taxa de desenvolvimento econômico, a urbanização e a poluição colocam pressão sem precedentes sobre a água, um recurso renovável, porém finito, acelerando a degradação de água doce do Planeta.

Drenagem Urbana

A partir dos anos 1950, verificou-se a explosão demográfica nos centros urbanos, trazendo novos desafios à sociedade. Esse crescimento acelerado e a ocupação dos espaços nas grandes cidades não levaram em consideração as áreas de vegetação e os sistemas naturais, alterando drasticamente os sistemas hidrológicos.

O aumento exponencial de construções, impermeabilizações dos solos, canalizações e retificações dos cursos d´água vêm transformando de maneira radical e permanente a dinâmica hídrica urbana, criando novas respostas hidrológicas.

Desastres Naturais e Mudanças Climáticas

Ao longo de eras, cientistas observaram mudanças naturais nos padrões de distribuição das chuvas. No entanto, nos últimos anos têm sido observados eventos climáticos extremos, tais como enchentes, inundações e estiagens, que podem ser indícios de mudanças climáticas e alterações nos padrões da precipitação.

Segundo a Agência Nacional de Águas, essas novas respostas hidrológicas têm provocado estiagens, secas, enxurradas e inundações, as quais representam cerca de 84% dos desastres naturais ocorridos no Brasil, de 1991 a 2012. Nesse período, os desastres naturais registrados afetaram cerca de 127 milhões de pessoas. Em termos econômicos, foram contabilizadas perdas totais de R$ 182,7 bilhões!

Sistemas de Drenagem Urbana Clássico

Por muito tempo, a sociedade utilizou apenas obras de infraestrutura cinza para lidar com o sistema hidrológico nas cidades. No sistema de drenagem urbana clássico, a água da chuva cai nos telhados, ruas e calçadas, flui para as sarjetas, que levam a água pluvial até uma boca de lobo. A partir daí, a água da chuva segue por galerias, até chegar em algum canal ou rio mais próximo.

No século 19, devido ao elevado número de doenças decorrentes da falta de saneamento e de água parada, esse sistema de drenagem foi desenvolvido com o objetivo de “secar” a cidade, ou seja, não deixar água exposta. Apesar desse sistema funcionar bem e ter contribuído para a redução do número de doenças, com o crescimento nas cidades, as áreas florestais e de pastagens foram sendo substituídas por áreas impermeáveis. Assim, a água que antes infiltrava nos solos, passou a escorrer pelas ruas para dentro do sistema de drenagem tradicional, o qual precisava ser modificado constantemente devido ao aumento do fluxo de água, tornando-se um sistema inviabilizável economicamente.

Soluções Baseadas na Natureza (SbN)

Nas últimas décadas, começaram a surgir os primeiros projetos que promovem intervenções humanas inspiradas em ecossistemas saudáveis, com objetivo de enfrentar os desafios urgentes da sociedade, as chamadas Soluções baseadas na Natureza (SbN).

As SbN contribuem significativamente para lidarmos com os problemas complexos, contribuindo para o aumento da oferta de recursos hídricos. Inspiradas nos ecossistemas, elas utilizam (ou simulam) métodos naturais, com a finalidade de colaborar para a melhoria da gestão de águas. Tais soluções buscam a purificação do recurso, bem como a redução dos fluxos, evitando o risco de secas ou até mesmo enchentes.

Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável (SuDS)

É neste contexto que se encontram os Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável (em inglês: Sustainable Drainage Systems – também conhecidos como SuDS), que podem ser definidos como sistemas de drenagem de águas superficiais que possuem sinergia com os valores da sustentabilidade.

Os SuDS buscam anular ou, ao menos, diminuir os efeitos do crescimento da urbanização, ao aumentar a infiltração da água da chuva no solo e retardar o escoamento da água. Assim, conseguem diminuir a quantidade de água nas galerias e rios durante as chuvas mais fortes.

Eles são frequentemente considerados como uma sequência de práticas de manejo, estruturas de controle e estratégias projetadas para drenar de forma eficiente e sustentável a água de superfície, enquanto minimizam a poluição e gerenciam o impacto na qualidade da água.

Essas técnicas compensatórias dos efeitos negativos da urbanização se mostraram mais sustentáveis quando comparadas com as técnicas de drenagem clássica, pois buscam reduzir o escoamento superficial com a integração de pequenas unidades de controle de águas pluviais, por meio de elementos semelhantes com a paisagem natural.
Portanto, a adoção desse sistema não se trata apenas do controle de quantidade e da qualidade do escoamento superficial, mas de uma reconciliação das cidades com seus ecossistemas naturais.

Princípios dos SuDS

Foram definidos quatro princípios gerais do design em SuDS, os quais apontam que o escoamento superficial de água deve ser gerenciado para o seu máximo benefício, detalhados a seguir:

Quantidade: deve-se controlar a quantidade do escoamento para apoiar o gerenciamento de risco de inundação e proteger o ciclo natural da água;

Qualidade: deve-se gerenciar a qualidade do escoamento para evitar a poluição;
Amenidade: deve-se criar e manter lugares melhores para as pessoas;
Biodiversidade: deve-se criar e manter lugares melhores para a natureza;

Com a implementação dos SuDS, é possível contribuir para o desenvolvimento sustentável e melhorar os lugares e espaços onde vivemos, trabalhamos e nos divertimos, equilibrando as diferentes oportunidades e desafios que influenciam o design urbano e o desenvolvimento das comunidades.

ÁguaV e Projetos em Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável

Com os projetos de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentável, a ÁguaV apresenta soluções para drenar o escoamento das águas superficiais, com o objetivo de obter maior retenção da água, diminuição de sua velocidade e ainda maior infiltração na área delimitada para o projeto. Tudo isso de forma integrada e com elementos do paisagismo.

Saiba mais sobre este assunto e demais projetos da ÁguaV, clicando aqui.

 

Imagem: Lizecon.

Share this article

Leave a comment